terça-feira, 7 de junho de 2011

Igreja Católica e Idade Média

Na maioria das vezes quando falamos em Idade Média nos vem na cabeça a ideia de trevas, temos muitas vezes certa rejeição há esse tempo, que torna-se mau interpretado em vista de pré-conceitos já estabelecidos por uma tradição por vezes falha de alguns filósofos e pensadores, que desprezam a verdadeira história.
No intuito de esclarecer alguns aspectos a esse respeito recorremos às palavras do Professor Felipe Aquino-Doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e pelo ITA e mestre na mesma área pela UNIFEI. Que no seu livro “Uma História que não é contada” traz a tona varias contribuições que nos ajudam a entender melhor essa época.
De início relembramos que bem mais do que o povo hoje tem consciência, a Igreja Católica moldou o tipo de civilização em que vivemos e o tipo de pessoas que somos. Embora os livros, textos típicos das faculdades não digam isto, a Igreja Católica foi a indispensável construtora da Civilização Ocidental. A Igreja Católica não só eliminou os costumes repugnantes do mundo antigo, como o infanticídio e os combates de gladiadores, mas, depois da queda de Roma, ela restaurou e construiu a civilização.
Contudo um dos pontos mais importantes de atuação da Igreja na Idade média cristã, foi no campo da Ciência, como se tem relato das descobertas no campo da astronomia, das técnicas agrícolas e tantas outras coisas, como a invenção do óculos feita por um monge. No entanto não convém citá-las uma por uma. Também destacamos que sem a Igreja não haveria a beleza da arquitetura, da música, da arte sacra, das universidades, dos castelos, do direito, da economia, etc.
Toda essa história é possível notar através dos escritos, dos concílios e outros. No séc. VI São Cesário de Arles já expunha no Concílio de Vaison (529) a necessidade imperiosa de criar escolas no campo; e os bispos se dedicaram a isto. Da mesma forma foi a Igreja que montou para Carlos Magno (†814) a sua política escolar; e retomou a tarefa educadora no séc. X após o fim do seu Império. 
O III Concílio de Latrão (1179), em Roma, presidido pelo Papa Alexandre III (1159-1181), ordenou ao clero que abrisse escolas por toda a parte para as crianças, gratuitamente. Obrigou a todas as dioceses terem ao menos uma. Essas escolas foram as sementes das Universidades que logo surgiam: Sorbone (Paris), Bolonha (Itália), Canterbury (Inglaterra), Toledo e Salamanca (Espanha), Salerno, La Sapienza, Raviera na Itália; Coimbra em Portugal.

No séc. XII havia só na França 70 abadias com escolas. Todos os grandes bispos também quiseram ter escolas; na França, no séc. XII havia mais de 50 escolas episcopais. Dos sete aos vinte anos as crianças e os jovens eram recebidos nessas escolas sem distinção de classes. Havia escolas só para meninas e moças. As disciplinas dividiam-se em “trivium” (gramática, dialética e retórica) e “quadrivium” (artimética, geometria, astronomia e música). Mas um grande pedagogo da época Thierry de Chartres, mostrou que o “trivium e o quadrivium” eram apenas um meio e que o fim era “formar almas na verdade e na sabedoria”.
Em muitas escolas os alunos tinham ensino técnico de como trabalhar o ouro, prata e cobre. Aos poucos surgiam as especializações: Chartres (letras), Paris (teologia), Bolonha (direito), Salerno e Montpellier (medicina).
O Concilio geral de Latrão III, aprovou o seguinte cânon:“A Igreja de Deus, qual mãe piedosa, tem o dever de velar pelos pobres aos quais pela indigência dos pais faltam os meios suficientes para poderem facilmente estudar e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um benefício (rendimento) conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres” (can. 18, Mansi XXII 227s).
O IV Concílio ecumênico do Latrão (1215), renovou este decreto. Teodulfo, bispo de Orléans no séc. VIII, promulgou o seguinte decreto: “Os sacerdotes mantenham escolas nas aldeias, nos campos; se qualquer dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos para aprender as letras não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes com perfeita caridade. Nem por isto exijam salário ou recebam recompensa alguma a não ser por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por afeto ou reconhecimento” (Sirmond, Concilia Galliae II 215).
Fica aí exposto o quanto a Igreja presava pelo ensino e ensino de qualidade. Porem outra coisa que gostaríamos de nos ater é sobre a chamada Inquisição. Esta que ao mesmo tempo que desperta curiosidade, desperta indignação e pavor daqueles que não conhecem de fato o que aconteceu.
Inquisição é fato acontecido e diante dos fatos as palavras se calam, ou seja, não se nega. No entanto é preciso entender o contexto da época em que isso aconteceu, e como aconteceu, para não se tirar conclusões errôneas. O que chama atenção é que no decorrer da Idade Média existiram muitos santos e santas, alguns elevados as honras dos altares e outro não, mas enfim, de todos esse santos não houve um se quer que tenha contestado a Inquisição. A pergunta crucial é PORQUÊ? Primeiramente porque na época a inquisição era algo que todo mundo achava necessário; segundo quem condenava não era a Igreja, tanto que quando alguém se declarava herege, quem o julgava era a lei civil, essa pessoa cometia um crime contra o Rei, era chamado crime de lesa majestade e consequentemente quando alguém cometia um crime contra o Rei era morto. Porém o que é importante entender é que crime de lesa majestade foi equiparado a heresia e então sim cabia a Igreja julgar.
Para entender essa trama é essencial mergulhar a fundo na história e entender que esse tempo foi um tempo em que Deus era o senhor da vida e do povo e que a ele era direcionado o labor e orações. Daí Santo Tomás de Aquino se embasou para questionar: “O que é pior? Aquele que falsifica a moeda e vai para a pena de morte, ou aquele que falsifica a fé e leva a pessoa para o inferno?” Era essa a mentalidade que se tinha na Idade Média, pois nesse período da história o que valia era a alma, ao contrário de hoje que o que vale mais é o corpo. Basta analisar se nesse tempo existia academia de ginástica, produtos de beleza ou cabeleireiros. Não existiam nada disso, por isso quem ferisse a alma estava também ferindo o corpo.
É óbvio que aos olhos modernos isso é inconcebível, e também é claro que esse episódio já mais se repetirá. Por isso nós expomos um pouco da história não pra justificar o que foi feito, mas para entender o contexto.
Enfim entendemos que muitas das interpretações feitas a respeito da Igreja são errôneas e mal formuladas no que diz respeito ao ensino e Inquisição na Idade Média tida vulgarmente como Idade das Trevas.





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