quinta-feira, 17 de março de 2011

As Origens da filosofia

De uma postura geocêntrica onde a terra era o centro do universo em meio a controvérsias históricas da Idade Média passou para uma visão renascentista antropocêntrica em que o homem tomou seu trono e tornou-se sua própria majestade, mesmo diante dos séculos isso perdurou, no entanto isso o afigurou de tal forma que se perdeu e tenta encontrar seu sentido.
Muito se discute na filosofia o seu objeto de estudo o conhecimento humano, ou seja, mais especificamente como se chega a esse conhecimento. É comum ouvir o questionamento “Quem somos? De onde viemos? e para onde vamos?
Para responder, ou pelo menos se ter uma noção sobre esses questionamentos é preciso primeiro entender a si mesmo, ou melhor, se situar no espaço em que vive para então se ter uma noção da realidade que o cerca.
Pascal no que se refere ao homem afirma “o homem nada mais é do que um junco, o mais frágil da natureza, mas um junco pensante” e é justamente por pensar que o homem se faz conhecedor do mundo. Porém sendo possuidor de fraquezas corre o risco de transformar a arte de pensar em ideologia, isso acontece por assim dizer devido a certa necessidade de segurança, de poder, de construir seu espaço ou seu arranjo.
Para superar as ideologias e o que impede o homem de pensar o certo Arcângelo Buzzi em seu livro Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento, a linguagem. Propõe através do que Sócrates chama de afeição pode se dizer seis métodos para um bom conhecimento filosófico.
O primeiro deles é a inquietação, essa que se faz presente no cotidiano das pessoas e que os impulsiona sempre o desejo de conhecer, buscar os segredos mais ofuscados.
Por conseguinte Buzzi lança em seu texto a palavra admiração, a admiração que todos os amantes do conhecimento devem ter para com todas as coisas existentes até mesmo as mais insignificantes.

“A admiração me parece a primeira de todas as paixões; a ela não tem oposto porque se o objeto que se apresenta não tem em si nada que nos surpreenda, nós não somos afeiçoados por ele e o consideramos desapaixonadamente” (Descartes. Passions de l’âme, II, 53).

Assim como as crianças que se admiram com pequenas coisas do dia-a-dia e não se cansam de fazer perguntas, pois também o homem não deve perder essa preciosa admiração que faz de certa forma nascer um senso crítico diante do conhecimento.
Num terceiro método Buzzi apresenta a angústia como forma de conhecer. Este conhecer que parte do conhecer-se e buscar a partir das boas posturas que elas se tornem a mais ética possível para a realização de um trabalho que promova a dignificação de todos.
Nos causa angústia sabermos que somos mera possibilidade de sermos, que nos causa dor e que somente através da angústia que nos faz buscarmos constantemente sermos melhores vai nos fazer ser, mesmo perante este mar de niilidade, ou melhor, de possibilidades que nos abre para a infinidade da possibilidade.
As incertezas devem nos conduzir ao desafio de lutarmos de acreditarmos que somos possibilidades e movemos ao diferente, a posturas que supram este medo conformista.
Outro ponto que nos aprisiona ou acompanha é o medo, que como um deus segue constantemente nossos passos. Somos como que comandados por esse medo, que nos faz buscar sempre mais as coisas que parece suprir nossas necessidades. Como a riqueza, a força, os pactos de solidariedade, a confiança num ser superior para nos defender e fugir do que nos ameaça.
O medo nos induz a transformar as coisas em meios que nos socorram, sendo que o grande meio é o mundo, onde buscamos a proteção, a proteção contra todas as ameaças.
“O medo é o nosso rei e ninguém escapa do seu domínio.” Jean Marot
O último método apresentado por Buzzi é a coragem. Que nos faz superar qualquer dificuldade e barreira. Mas sabe-se que a coragem não esta intimamente no êxito, na vitória nem no vencimento do que nos aflige. Está em nós como sentido do possível. Devemos nos enfrentar, superar nossos próprios limites de covardia e ser audaciosos. Para isso devemos nos treinar. E sermos como um galo de madeira, que consegue vencer e mudar até o que parece imutável. Como podemos ver no poema atribuído a Chuang Tzu, filosofo taoísta do século II a.C.
“Chi Hsing Tzu era treinador de galos de briga
Para o Rei Hsuan.
Estava treinando uma bela ave..
Sempre perguntava o Rei se a ave
Estava Pronta para a briga.
‘Ainda não’, dizia o treinador.
‘Ele é fogoso.
É pronto para atiçar briga.
Com qualquer ave. É vaidoso e confiante
Na sua própria força.’
Depois de dez dias, respondeu novamente:
‘Ainda não.’ Eriça-se todo
Quando ouve outra ave grasnar.
Depois de mais dez dias:
‘Ainda não. Ainda está
Com aquele ar irado
E eriça as penas.’
Depois de dez dias
Disse o treinador: ‘Agora ele está quase pronto.
Quando outra ave grasna, seu olho
Nem mesmo pisca.
Fica imóvel
Como um galo de madeira.
É um brigador amadurecido.
Outras aves olharão para ele de relance
E fugirão.” ( A via de Chuang Tzu, op., p. 142-143).

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